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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Justiça, Paz e Salvação



Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,  porque serão fartos. (Mt. 5.6)

Por meio desta linguagem figurada se designam o desejo ardente e a necessidade imperiosa da justiça.
O conceito de justiça nos profetas é praticamente sinônimo de paz e salvação (Is 51.5-8). Inclui toda a gama de virtudes que conduzem às relações retas e sãs entre as pessoas e entre o ser humano e Deus.
Esta justiça certamente não é o tipo de moralismo que caracterizava os Escribas e Fariseus. A justiça no pensamento hebraico era um conceito amplo de relações justas, retas e harmoniosas entre as pessoas. Significava o bem-estar no sentido mais amplo. Trata-se de uma vida caracterizada pelo amor, isto é, a disposição de viver para o bem do próximo.

O reino de Deus é reino de “justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17).  Assim, pois, a fome e sede de justiça serão satisfeitas nesse reino.

John Driver, do livro Ouça Jesus, Ed. Cristã Unida.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Injustiça não se resolve com esforços violentos


Bem–aventurados os mansos, porque herdarão a terra,   Mt 5.5

O manso é o não-violento, o que confia em Deus e espera nele, a pessoa justa e misericordiosa, o pobre e humilde de Javé, o que não tem outra alternativa senão depender de Deus.  O manso não é alguém a quem falte espírito; não é uma pessoa limitada. Moisés é um exemplo clássico da mansidão; característica que lhe custou quarenta anos de aprendizado no deserto. Em sua juventude ele tinha sido um revolucionário típico.  Ante as injustiças que seu povo sofria nas mãos dos Egípcios, quis defender a causa justa  de seus irmãos por meio de seus próprios esforços violentos. Moisés, porém,  finalmente aprendeu a esperar a voz  de Deus  e a  submeter-se ao domínio de javé. A mansidão é produto da confiança e fé em Deus.   

Quando a história chegar ao seu fim, serão os mansos de Deus,  junto com o seu  Senhor  manso e humilde, que permanecerão e não os homens egoístas e violentos.


Se realmente captássemos essa visão de bem-aventurança,  mudariam nossas  escalas de valores, nosso estilo de vida e também (por que não dizer) uma boa parte de nossa vida e atividade eclesiástica.

Extraído do livro de John Driver, Ouça Jesus; Ed. Cristã Unida

sexta-feira, 26 de junho de 2015

O sofrimento neste mundo e a consolação do reino de Deus


Mãe chora morte do filho no atentado ao shopping no Quenia

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados - Mt 5.4


Os que Choram  - Não se trata de pessoas melancólicas ou chorosas, mas atribuladas. Sem dúvida, parte de sua aflição decorre de sua preocupação com seus semelhantes. Choram os males que sobrevêm ao povo precisamente por sua indisposição de arrepender-se para encontrar sua verdadeira felicidade na comunidade do Messias.
                             Os únicos que experimentarão a consolação autentica do reino são os que não estão bem; os que se sentem incomodados dentro do sistema de coisas que caracteriza o reino deste mundo; que, através do arrependimento angustioso e profundo, mudaram sua escala de valores e encontraram, como consequência, a aflição neste mundo e o gozo do reino de Deus.

John Driver, no livro Ouça Jesus, Editora Cristã Unida

terça-feira, 23 de junho de 2015

Em direção aos pobres



"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos céus "     Mateus 5:3

                O conceito tao geralmente aceito e proclamado no ocidente de que o evangelho é um instrumento que impulsiona a mobilidade sócio-econômica para cima (e este fenômeno é especialmente notável entre os evangélicos) é realmente uma tergiversação vergonhosa do Evangelho de Jesus Cristo.  
             
               A mobilidade sócio-econômica para a qual Jesus nos chama é em direção aos pobres. É um chamado para nos orientarmos de acordo com o mesmo espírito de jesus que "a si mesmo se humilhou", "assumindo a forma de servo". (Fp 2.5-8)

                                                                          Extraido do livro  Ouca Jesus, de John Driver

sábado, 20 de junho de 2015

Menina adepta ao Candomblé atingida por uma Pedra


Uma menina de 11 anos, adepta ao Candomblé, caminhava numa  rua com seus trajes brancos, voltando de uma festa da sua religião quando foi atingida por uma pedra na cabeça; e chegou a desmaiar com a pedrada. Alguns  homens supostamente evangélicos, seriam os autores do ataque. O jornal Estadão noticiou que a agressão ocorreu na Penha, Rio, no ultimo domingo, dia 14.  
A família da garota informou que os agressores , eram dois homens  evangélicos que gritavam : “Sai demônio; vão queimar no inferno, macumbeiros.”  
O crime está sendo  investigado  pela Polícia do Rio.

Discípulos Violentos
Certas atitudes de pessoas que se dizem evangélicas  mostram o quanto estão longe do ensino de Jesus Cristo. A interpretação deturpada do evangelho não os deixa enxergar textos tão claros quanto o de Lucas no capitulo nove, onde o evangelista narra uma tentativa de Jesus de passar uma noite numa aldeia de Samaritanos, entretanto eles se recusaram a recebê-lo. Lucas descreve duas reações:

E os discípulos Tiago e joão, vendo isso, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também o fez? Voltando-se, porém, repreendeu-os e disse: Vos não sabeis de que espirito sois. porque o Filho do Homem não veio para destruir as almas, mas para salvá;las. E foram para outra aldeia . (Lc 9.51-56)



Intolerância Religiosa no Brasil
Representantes de movimentos ligados ao candomblé tem feito varias denúncias de episódios de intolerância religiosa; e o caso da garota atingida por uma pedrada no bairro da Penha, é um destes. A violência, nestes casos de intolerância, passa a ser um assunto preocupante para estudiosos  da religião, devido ao aumento de casos desta natureza.
Levantamentos feitos pelo Jornal O Globo, dão conta que denúncias de intolerância religiosa, registradas por adeptos de religiões afro-brasileiras,  recebidas pelo Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência,  aumentou drasticamente de 2013 até 2015 .
Em quase metade dos casos destas  denúncias de intolerância os evangélicos são apontados como autores.
A violência ocorre de três formas. Uma delas é a verbal, na qual praticantes das religiões Afro são xingados de “filhos do Demônio”, por exemplo. Outra forma  seria contra os locais de culto - “terreiros” ou “Casas de Santo” - esta também aparecem nas denúncias. Vários desses lugares de culto da Umbanda e do Candomblé foram invadidos e tiveram imagens dos santos quebradas . Há um caso em que o terreiro foi incendiado mais de uma vez. Além dessas duas  também são denunciadas as agressões físicas, a exemplo da pedrada na garota, na Penha.

Radicalismo da Guerra Espiritual
Por que alguns membros de grupos evangélicos  pentecostais ou neo pentecostais  são sempre os principais suspeitos de violência contra adeptos do espiritismo?
Vou enumerar dois  motivos que seriam os principais:
  1. Historicamente  o grupo pentecostal,   mais antigo, sempre teve uma pregação mais agressiva contra as práticas das religiões de Umbanda e Candomblé, enfatizando que são cultos de invocação de espíritos malignos e, portanto, seriam contrários aos ensinamentos bíblicos;  e quem frequenta essas religiões fica possuído por demônios e precisam  ser libertos. Essa libertação ocorre normalmente em cultos evangélicos quando se confessa unicamente Jesus Cristo como Senhor e se  abandona  as práticas espíritas;  e os demônios são expulsos das pessoas;
  2. Outro ensino, este mais recente,  ganhou o nome de  Guerra ou Batalha Espiritual e influenciou muito os chamados grupos neo-pentecostais.  Esse tipo de teologia interpreta mais radicalmente  a guerra entre exércitos  espirituais de Satanás contra a igreja de Cristo;  e acredita que através de cerimônias simbólicas os demônios podem ser derrotados;  cerimônias, tais como, professar palavras de ordem contra os locais de culto de Umbanda e Candomblé; quebrar imagens; ungir  com óleo as ruas onde os centros espíritas estão localizados; dirigir orações com as  mãos estendidas contra os locais de culto, e outras práticas. 


Obviamente a teologia de Guerra Espiritual, como o nome sugere, possui um caráter beligerante e muitas pessoas  podem interpretar que  a “guerra” deve ser feita não apenas contra os demônios que estariam  presentes naquelas religiões, mas contra seus adeptos  “endemoninhados”.
Mesmo que um cristão perceba que alguém não deseja receber seu Cristo, como citado no texto bíblico acima, isso não justifica hostilizar quem não o aceitou; mas ao contrario, que seja tratado com amor. 
Infelizmente, O Príncipe da Paz tem seu nome usado para justificar a  violência de falsos irmãos ou de pessoas de boa fé, porém, ignorantes. São religiosos que continuam sem entender que o Filho do Homem não veio para destruir, mas para salvar as almas das pessoas.


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Violencia envolvendo menores é problema social , sim!


Esteve em Brasília, semana passada,  uma mulher que é um  dos maiores nomes na mudança de política de drogas do mundo, a ex-presidente da Suíça, Ruth Dreifuss. Ela integra um grupo de  líderes da Comissão Global de Políticas sobre Drogas, ao lado de outros ex-presidentes, como nosso ex-presidente e Sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Essa Comissão luta para mudar as políticas públicas de drogas no mundo, favorecendo uma abordagem menos punitiva e mais social.

Dreifuss foi a Brasília, dia 16 de abril, para uma palestra sobre o tema na Universidade de Brasília (UnB) e discutiu os entraves e avanços internacionais, fazendo referencia  ao Brasil.
O jornal Correio Brasiliense fez uma reportagem sobre a palestra da qual destaco dois pontos:

Primeiro:  Sobre dificuldades de aplicabilidade de leis no Brasil.
Ao ser   questionada por um dos alunos presentes sobre a aplicabilidade no Brasil  de políticas que funcionaram num pais bem menor que o nosso , no caso a Suíça,  resposta foi a seguinte:
“O motivo para que as políticas públicas não funcionem não tem relação com o tamanho do país, mas sim com a corrupção e a ineficiência de implementação e fiscalização de leis”.

Segundo: Sobre o projeto de lei que  tramita mo Congresso brasileiro  que propõe a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
Ruth Dreifuss não acredita que a redução diminuiria a violência em nada,  mas que Isso só ajudaria a criar “mini soldados” para o tráfico.
"O que deveria haver é a repressão na guerra ao tráfico, afinal, trata-se de uma organização criminosa. Mas deve-se prender traficantes, mulas, financiadores, e não crianças. Colocar alguém que ainda nem terminou seu desenvolvimento na prisão cria um enorme risco de transformá-lo em um criminoso de verdade, por toda sua vida. Essas crianças devem ter uma chance de um futuro melhor, e prendê-las é interromper essa chance."
Falta Sensatez à maioria aos deputados que apoiam o Projeto
Palestras como esta acima referida  e a troca de experiências  com pessoas como Dreifus, que conseguiu implantar leis que reduziram o tráfico de drogas e, portanto, a violência no seu país, deveriam ser levadas bastante a sério pela sociedade brasileira, principalmente pelos deputados e senadores.

Eu pude acompanhar alguns artigos e debates sobre a questão do projeto que visa reduzir a maioridade penal. O que se observa é que grande parte dos políticos está indo na “onda” da maioria do povo brasileiro  que de forma emocional, pressionado pelo crescimento da violência, exige mais punicáo aos crimes, a qualquer custo. Mas é óbvio que deixando de lado aquele apelo das ruas, e encarando o assunto com a calma e sabedoria que ele exige, chegaremos à conclusao que trata-se de um problema social de nosso país e que este aumento de punicáo não vai resolver de forma alguma.

Mas falar em calma e sabedoria neste atual momento turbulento e insano pelo qual passa o Congresso Brasileiro é parecido com o  pregar no deserto. Que haja diálogo nesse Congresso e que com os novos debates possa  Deus  lançar uma luz sobre esse caso.

Imagem acima do Site da UnB

sexta-feira, 10 de abril de 2015

PEC de redução da maioridade penal - mas não vai reduzir a violência



Impulsionada pela bancada evangélica e pela chamada "bancada da bala", a câmara dos deputados fez avançar a PEC que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. Foi aprovada na Câmara de Constituição e Justiça na semana passada. 
Eu até entendo que a tal  Bancada da Bala, composta por representantes de policiais civis e militares e delegados, militares reformados, ex-coronéis da PM, tenha votado maciçamente na redução dessa maioridade, mas os representantes dos evangélicos mais uma vez entram em contradição com a fé que professam ou dizem professar. 
O próprio texto da PEC que a dez anos foi encaminhada ao congresso, por outro deputado evangélico, cita textos bíblicos para justificar a redução da maioridade penal. Salomão e Daví são citados como exemplo, além de um texto do profeta Ezequiel que diz "a alma que pecar esta morrerá"; o referido texto do Projeto comenta que o verso bíblico não menciona a idade desta alma. 

         Fora do Contexto
Qualquer estudante de teologia  saberia que os textos acima são citados fora de contexto e quase todo evangélico que estudou minimamente a bíblia  numa das escolas bíblicas dominicais deve ter ouvido um chavão que diz que " texto usado fora do contexto é pretexto". Neste caso, pretexto para que?
No caso dos representantes dos evangélicos ávidos de se mostrarem relevantes para a sociedade querem dar respostas imediatas para grandes problemas que afligem a população,  como o da violência urbana, por exemplo, mas ao invés de enfrentarem os problemas de forma estrutural, buscam soluções imediatistas, para contentar os eleitores. 
Com essas atitudes, cada vez mais, esta frente parlamentar evangélica só prova que suas ações em nada diferem dos demais parlamentares oportunistas.
         
         Sabem o que estão fazendo
Eles e os demais defensores da redução da maioridade insistem num ponto de que adolescentes de 16 anos já sabem o que estão fazendo e que por isso precisam ser punidos. Eu também creio que eles sabem o que estão fazendo, mas isso não justifica ter que mandá-los ao presídio. 
O problema carcerário brasileiro tem sido tema de debates a alguns anos e todos os especialistas concordam que este encarceramento em presídios não restaura ninguém, ao contrário torna mais violentos aqueles que haviam cometido crimes menores.
Colocar adolescentes nestas prisões superlotadas só vai agravar a situação de um sistema em colapso devido à superlotação de penitenciárias, à precariedade das instalações, à violência das facções que dominam os presídios, à falta de higiene e saúde, à corrupcao de agentes publicos , à morosidade do processos no poder judiciário..

Não será por decreto que a violência vai diminuir neste país.
A quantidade de mortes entre jovens e adolescentes no Brasil é muito alta . Alem de serem vitimas de grande violencia  os adolescentes devem também sofrer mais esta violência, ou seja, encarcerá-los sem lhes oferecer uma possibilidade de reeducação? 
Diversos são os argumentos que se tem levantado favoráveis ou contrários ao  projeto, mas especialmente questiono os argumentos bíblicos que estão sendo citados  para defender a redução da maioridade penal
         
         A bíblia e os menores 
A defesa de crianças, viúvos,  órfãos e pessoas mais fragilizadas na sociedade é um dos preceitos básicos da Lei de Moisés e da tradição profética de Israel que apresentava Deus ao lado dos mais fracos e desamparados e abominava as injustiças sociais.

Neste mesmo espirito esse Deus enviou se filho Jesus Cristo, como servo manso e humilde de coração. Jesus amou crianças e  todos os párias sociais e combateu a religiosidade farisaica  que insistia em que devemos interpretar as escrituras não com base na letra da Lei que mata, mas no espírito da Lei que vivifica. 
   
        Espero que as igrejas, ONGs e outros movimentos da sociedade civil e redes de  juventudes que trabalham pela paz e justica social possam dar sua colaboração no debate e mostrar que  este  Projeto de redução de maioridade penal não vai resolver de modo nenhum o problema da violência, mas tão somente  visa melhorar a imagem desgastada da câmara dos deputados diante das cobrancas da sociedade.