Uma menina de 11 anos, adepta ao Candomblé, caminhava numa rua com seus trajes brancos, voltando de uma festa da sua religião quando foi atingida por uma pedra na cabeça; e chegou a desmaiar com a pedrada. Alguns homens supostamente evangélicos, seriam os autores do ataque. O jornal Estadão noticiou que a agressão ocorreu na Penha, Rio, no ultimo domingo, dia 14.
A família da garota informou que os agressores , eram dois homens evangélicos que gritavam : “Sai demônio; vão queimar no inferno, macumbeiros.”
O crime está sendo investigado pela Polícia do Rio.
Discípulos Violentos
Certas atitudes de pessoas que se dizem evangélicas mostram o quanto estão longe do ensino de Jesus Cristo. A interpretação deturpada do evangelho não os deixa enxergar textos tão claros quanto o de Lucas no capitulo nove, onde o evangelista narra uma tentativa de Jesus de passar uma noite numa aldeia de Samaritanos, entretanto eles se recusaram a recebê-lo. Lucas descreve duas reações:
E os discípulos Tiago e joão, vendo isso, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também o fez? Voltando-se, porém, repreendeu-os e disse: Vos não sabeis de que espirito sois. porque o Filho do Homem não veio para destruir as almas, mas para salvá;las. E foram para outra aldeia . (Lc 9.51-56)
Intolerância Religiosa no Brasil
Representantes de movimentos ligados ao candomblé tem feito varias denúncias de episódios de intolerância religiosa; e o caso da garota atingida por uma pedrada no bairro da Penha, é um destes. A violência, nestes casos de intolerância, passa a ser um assunto preocupante para estudiosos da religião, devido ao aumento de casos desta natureza.
Levantamentos feitos pelo Jornal O Globo, dão conta que denúncias de intolerância religiosa, registradas por adeptos de religiões afro-brasileiras, recebidas pelo Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, aumentou drasticamente de 2013 até 2015 .
Em quase metade dos casos destas denúncias de intolerância os evangélicos são apontados como autores.
A violência ocorre de três formas. Uma delas é a verbal, na qual praticantes das religiões Afro são xingados de “filhos do Demônio”, por exemplo. Outra forma seria contra os locais de culto - “terreiros” ou “Casas de Santo” - esta também aparecem nas denúncias. Vários desses lugares de culto da Umbanda e do Candomblé foram invadidos e tiveram imagens dos santos quebradas . Há um caso em que o terreiro foi incendiado mais de uma vez. Além dessas duas também são denunciadas as agressões físicas, a exemplo da pedrada na garota, na Penha.
Radicalismo da Guerra Espiritual
Por que alguns membros de grupos evangélicos pentecostais ou neo pentecostais são sempre os principais suspeitos de violência contra adeptos do espiritismo?
Vou enumerar dois motivos que seriam os principais:
Historicamente o grupo pentecostal, mais antigo, sempre teve uma pregação mais agressiva contra as práticas das religiões de Umbanda e Candomblé, enfatizando que são cultos de invocação de espíritos malignos e, portanto, seriam contrários aos ensinamentos bíblicos; e quem frequenta essas religiões fica possuído por demônios e precisam ser libertos. Essa libertação ocorre normalmente em cultos evangélicos quando se confessa unicamente Jesus Cristo como Senhor e se abandona as práticas espíritas; e os demônios são expulsos das pessoas;
Outro ensino, este mais recente, ganhou o nome de Guerra ou Batalha Espiritual e influenciou muito os chamados grupos neo-pentecostais. Esse tipo de teologia interpreta mais radicalmente a guerra entre exércitos espirituais de Satanás contra a igreja de Cristo; e acredita que através de cerimônias simbólicas os demônios podem ser derrotados; cerimônias, tais como, professar palavras de ordem contra os locais de culto de Umbanda e Candomblé; quebrar imagens; ungir com óleo as ruas onde os centros espíritas estão localizados; dirigir orações com as mãos estendidas contra os locais de culto, e outras práticas.
Obviamente a teologia de Guerra Espiritual, como o nome sugere, possui um caráter beligerante e muitas pessoas podem interpretar que a “guerra” deve ser feita não apenas contra os demônios que estariam presentes naquelas religiões, mas contra seus adeptos “endemoninhados”.
Mesmo que um cristão perceba que alguém não deseja receber seu Cristo, como citado no texto bíblico acima, isso não justifica hostilizar quem não o aceitou; mas ao contrario, que seja tratado com amor.
Infelizmente, O Príncipe da Paz tem seu nome usado para justificar a violência de falsos irmãos ou de pessoas de boa fé, porém, ignorantes. São religiosos que continuam sem entender que o Filho do Homem não veio para destruir, mas para salvar as almas das pessoas.