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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Reforma, Fé e Violência (2ª parte)


O Reformador Zwínglio  arrefeceu nas reformas.

Início da Perseguição aos Anabatistas no Sul da Alemanha e Suiça.

Muitas vezes acontece de um determinado grupo começar um movimento forte e depois arrefecer. 

Lembro que, recentemente no Brasil (junho e julho de 2013), o Movimento Passe Livre, foi o protagonista das grandes manifestações contra os aumentos abusivos de passagens de ônibus. 
Depois o movimento se espalhou por diversas capitais e cidades grandes do interior do Brasil.

Caracterizou-se por reunir  grandes aglomerações  de pessoas mobilizadas pelas redes sociais. Esta população passou a perceber que havia possibilidade de pressionar as autoridades não apenas para diminuir o preço das passagens de transporte público, mas também  combater a corrupção do governo e fazer diversas cobranças. 

Chegou a um ponto que a liderança do movimento Passe Livre  foi à televisão para dizer que não tinha mais nada com haver com as grandes manifestações que continuavam a ser convocadas nas mídias sociais; que a pauta do movimento era basicamente a mobilidade urbana. 

Zwínglio queria "Pisar no Freio"  da Reforma na Suíça

Citei o exemplo acima para lembrar da Reforma Protestante no Sul da Alemanha e Suíça, guardadas a devidas proporções, obviamente.  

Resumidamente,  o caso foi assim: que Ulrico Zwinglio, de Zurique, que pode ser considerado o Reformador da Suiça e Sul da Alemanha, quando percebeu que o movimento estava perdendo o controle, começou a querer "pisar no freio" quanto à radicalidade da reforma da igreja. 
Por exemplo, a questão do batismo infantil, que Zwinglio pregou a princípio que era contrário, passou a ser um problema que levaria a sérias dificuldades sociais. Pressionado pelo Conselho político da cidade, Zwínglio voltou atrás; ficou do lado do conselho. 

Uma minoria insatisfeita
Os discípulos do pregador  Zwínglio, dentre eles,  Conrad Grabel, Felix Mantz,  não concordaram com essa atitude de seu mestre e exigiram que a reforma fosse seguida na Suíça, em obediência à palavra de Deus, e que os batismos infantis  cessassem  e que fossem batizadas, ou rebatizadas,  apenas pessoas adultas; exigiam também o completo rompimento da igreja com o Estado.

Houve, realmente,  um  rompimento;  mas  dos discípulos com seu mestre Zwínglio.
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Temendo que agitações sociais sacudissem as cidades, em 18 de janeiro de 1525 o Conselho da cidade de Zuric, Suiça, decidiu que todas as crianças deveriam continuar sendo batizadas. Além disso decretou que os pais que insistissem em não batizar seus filhos seriam expulsos da cidade. 

Assim  iniciaram as grandes dores  e sofrimentos da perseguição aos anabatistas (rebatizadores).

Uma reunião de oração em Zuric, Suiça, em 21 de janeiro de 1525 é considerada o marco inicial da Reforma Anabatista. 

A reunião aconteceu na casa de Felix Mantz. Além de Félix, Conrad Grebel também estava na presente um sacerdote chamado George Blaurock .Esse padre George era apelidado de Blaurock, porque usava costumeiramente um paletó azul. 
Diante das ameaças do Conselho da cidade eles se reuniram para orar, pedindo a direção de Deus, para saber o que deveriam saber.

Há algumas narrações do que aconteceu naquela reunião e depois dela. 

Uma antiga carta escrita possivelmente em 1530, portanto, pouquíssimos anos depois da citada reunião de oração.
Transcrevo abaixo uma parte da carta, originalmente escrita em Holandes,  extraída do livro Uma Introdução à História Menonita, de Cornélios J. Dick, Editor:

"E sucedeu que estavam juntos. Depois que um temor se apoderou fortemente deles, e eles  clamaram a Deus no céu, que Ele mostrasse misericórdia para com eles. Então George se levantou e pediu a Conrado pelo amor de Deus que o batizasse; e ele o fez. Depois disso ele batizou ou outros também. Depois disto, mais sacerdotes e outras pessoa se somaram, que logo selaram com seu sangue. "
A carta vai continuar mostrando os primeiros mártires do anabatismo, que desafiaram o conselho da cidade:
"Assim também o acima mencionado Felix Mantz, que foi o primeiro; foi afogado em Zurique, Wolfgang Uliman foi queimado em Walzem com dez outros, inclusive seu irmão, que era seu companheiro. Ele foi o sétimo.Depois dele um clérigo chamado Hans Pretle (Johan Brotli), que também era nosso servo no país. E assim ele se divulgou através da perseguição, como Miguel Satler e muitos de seus parentes. Assim também Melchior Veit, que era companheiro de George Blaurock, foi queimado em Dracha."
Assim, foi iniciado o anabatismo: com uma reunião de oração que ousou enfrentar o Estado. 
Aqueles pioneiros do anabatismo, e mártires,  podemos dizer, levaram a sério o que diz o novo testamento: "Antes importa obedecer a Deus do que os homens"

Portanto, uma  reunião de oração, em  de 21 de janeiro de 1525, deflagrou o movimento do Anabatismo como uma igreja visível de crentes, com ênfases distintas tanto do catolicismo romano, como do Protestantismo emergente. Ela é chamada Reforma Anabatista ou Reforma Radical.

Bibliografia:
Cornélius Dick, Uma introdução à História Menonita, Ed. Cristã Unida, 1992.


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A reforma protestante, a fé e a violência. 1ª Parte.




No mês de outubro igrejas reformadas do mundo inteiro comemoraram aquele que é considerado o dia da Reforma Protestante. 


Era meio dia em Wittemberg, do dia 31 de outubro de 1517, quando um professor, Doutor de Humanidades e Teologia Sacra, o padre Martinho Lutero, afixou na porta da igreja do castelo de Wittemberg, 95 teses contrárias às indulgências da Igreja Romana. Junto às teses acrescentou um convite educado,  para todos que quisessem participar de um debate sobre as questões por ele levantadas.
Assim, com este convite ao debate, a Reforma Protestante tinha  começado.  




Entretanto, as coisas tomaram um rumo muito diferente que apenas debates e discursos acadêmicos. Houve uma verdadeira revolução na Europa e que influenciou enormemente o mundo ocidental. A separação de Roma foi traumática. Surgiram fortes lideranças, fora da Alemanha de Lutero, como  João Calvino e Ulrico Zuínglio, que também  aderiram às idéias reformistas. 

 Os anabatistas propunham radicalizar a Reforma
Além do trauma da separação da igreja romana, os países que aderiram à Reforma tinham que pensar sobre a ameaça de muçulmanos de invasão  da Europa. Entretanto uma certa "ameaça"  interna passou a trazer tremenda dor de cabeça para as lideranças religiosa e políticas da Reforma. Era um movimento radical denominado "Anabatistas".
Um capítulo que merece destaque na Reforma Protestante do Século XVI  são os estes anabatistas. 
Foi um grupo que se originou dentre os discípulos do reformador Zuínglio, em Zuric, Suíça, que rompeu com aquele líder, e se espalhou  por toda Europa, a ponto de  perturbar a ordem religiosa social  e política, atraindo o ódio tanto dos líderes religiosos quanto dos políticos. Eram perseguidos e martirizados tanto em territórios dominados pelo catolicismo quanto nos territórios dominados pelos seguidores de Lutero  e Calvino e Zuínglio.  
Os anabatistas, ou em português, rebatizadores, criaram o movimento  mais perseguido do período da Reforma.  Receberam  inclusive o nome de Reforma Radical . 

Ênfases Anabatistas
Desejosos  de aprofundar as reformas  de Lutero, Zuínglio  e Calvino, os anabatistas pregavam:
- uma separação radical  entre a igreja  e o Estado;
- a não realização do batismo infantil;  
- e um retorno à igreja primitiva apostólica, que existia antes do período  de Constantino. 

Criam que  a igreja deveria ser livre e composta de pessoas  que tomassem a decisão pessoal de participarem  dela livremente, e sendo batizados depois de adultos, sem a força e a interferência do Estado. 
E para espanto de todos, afirmavam ainda que que para ser um discípulo de Jesus Cristo, o cristão não deveria pegar em armas em nenhuma ocasião de sua vida. Citavam como exemplo o próprio Cristo que não aceitou o caminho da espada, mas escolheu o caminho da cruz;  que se entregou, sem usar nenhum tipo de violência e sem resistência, aos seus algozes. Os anabatistas,  mesmo diante da perseguição armada, não se defendiam.  Eram pacifistas. 

Intolerância dos Reformadores - Massacre de anabatistas.
Essas ideias pregadas com tanto entusiasmo pelos anabatistas e sua aplicação nas suas comunidades que cresciam rapidamente, causaram  uma das maiores perturbações na  Europa do Século XVI. As autoridades civil e religiosas, que andavam de braços dados, não podiam tolerar nenhuma das reivindicações radicais.
Foi um movimento extremamente popular, que atraiu muitos camponeses e a população pobre da Europa; seu crescimento rápido assustava ainda mais as autoridades.
Em pouco tempo os anabatistas foram considerados  hereges pela igreja Reformada e pela Católica Romana; e pelo Estado, eles eram considerados oficialmente como subversivos em  todos os países da Europa. 
 Foram perseguidos  ferozmente, pois a pena para heresia  era a morte. 
As penas mais comuns que sofreram foram as mortes por afogamento, ou  queimados vivos em fogueiras. Os líderes eram queimados, os seguidores eram decapitados. 
Apesar de milhares de mártires, serem mortos com grande crueldade,  o movimento  continuava  crescendo para espanto dos perseguidores. 

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Bibliografia:  
Justo L. González. Historia del Cristianismo, Tomo 2, Desde la era de la reforma hasta la era inconclusa. Publicado por Editorial Unilit
Coneilus Dick, História Menonita ,  Editora Cristã Unida