Estava aguardando a abertura da Copa. Tinha até comprado um guaraná pra acompanhar
a pipoca quando vi, na TV, a tropa de choque da PM fazendo
isolamento de uma das entradas do
Estádio.
Repórteres,
empolgados com a abertura do evento,
não se cansavam de repetir que
meia dúzia de baderneiros não iriam
tirar o “brilhantismo” da Copa no Brasil, mas percebia-se
que estavam pasmos com o que estava acontecendo.
O Estádio Nacional de
Brasília – Mané Carrincha, palco da abertura da Copa das Confederações, foi
palco também de pancadaria da Polícia
Militar nos manifestantes, do lado de fora.
Depois de ver essas
cenas pensei: vou ter que interromper minha série de artigos
sobre conflitos entre casais; depois
continuo; esse conflito do povo contra as injustiças sociais tá mais sério, e tenho que me ater a ele por
enquanto.
Lembrei também que a dois meses atrás escrevi um artigo fazendo alusão à
violência de Brasília, à falta de Paz de nossa Capital e criticando a
inversão de prioridade do Governo, ou seja, não investir em segurança, para
investir em estádios caríssimos. Estava na minha frente as duas coisas: o estádio de futebol e a violência em volta dele.
Passo a citar um trecho
do artigo, para depois continuar o comentário sobre as manifestações, que como
a de Brasília, tomaram conta de tantas
cidades do país.
“Pacificação no Distrito Federal
O Distrito Federal, uma das sedes da Copa das Confederações de 2013 e da
Copa do Mundo de Futebol de 2014 começou o ano mal, no aspecto violência
urbana. Brasília também precisa ser
"pacificada".
Observa-se um aumento
alarmante da violência no DF, com mais homicídios
e sequestros relâmpagos. Em
março, em apenas um final de semana,
tivemos pelo menos oito assassinatos. Eles ocorreram em Santa Maria, Planaltina, Riacho Fundo e Ceilândia.”
Perplexidade da Mídia e das Autoridades
Depois de me surpreender com os protestos de Brasília comecei a me informar
mais sobre as manifestações e descobri
que não era só em Brasília, mas que em São Paulo já reunia milhares de pessoas protestando contra um aumento de R$ 0,20
(vinte centavos) nas passagens de
ônibus. O movimento chamado Passe Livre, em São Paulo, foi quem começou a
chamar o povo para se manifestar nas ruas.
E depois, pra minha alegria e espanto vi que o povo também
estava nas ruas, para protestar, em
diversas capitais como Rio, Belo horizonte, Porto Alegre, Recife, Brasília e
avançava para outras cidades menores.
Trata-se de uma
população em passeatas, dezenas de milhares, que sai às ruas, em sua grande
maioria a juventude, para demonstrar sua
indignação com os descasos que os governos,
do país e dos estados e municípios, vem
demonstrando com a vida da população.
Na segunda-feira, dia
17 de junho, cheguei em casa e fiquei sabendo que minha
filha mais nova tinha ido para a manifestação em frente ao Congresso Nacional. Grudei os olhos na
TV para ver se a polícia ia baixar o
sarrafo de novo. Graças a Deus não teve pancadaria.
Indignados, essa é a palavra. O povo se indignou, e com razão, com
a corrupção dos políticos do governo e com
a impunidade aos condenados no escândalo do “mensalão” do governo Lula e Dilma;
com a inflação, com os impostos altos, os serviços de péssima qualidade do transporte público, da segurança
pública; a carência e péssimo atendimento do serviço
de saúde.
Enfim o povo parece que cansou de ser
violentado. Porque a violência que sofremos não é apenas a
imposta pelo ladrão que nos rouba
na fila dos ônibus , ou que promove
sequestros relâmpagos, ou que está à
espreita para nos roubar as casas. Há
outra violência, a institucional. É a violência do patrão que nos explora, do
Estado que nos menospreza. Essas também nos
violam.
É óbvio que trata-se de violências contra o cidadão: o ter que pagar
taxas abusivas de IPTU e IPVA,
por exemplo, ou ter que gastar 3 ou 4
horas por dia dentro de um coletivo em péssimas condições, ou esperar um dia
inteiro para ser atendido por um médico
num hospital público. Isso tudo tem machucado a população e incrivelmente mobilizou muita gente para se manifestar nas ruas.
As
características do movimento que causou e está causando inquietação e perplexidade em repórteres e
políticos, seriam as seguintes, principalmente:
1.
As manifestações
aglomeram mais de cem mil pessoas em São
Paulo e Rio, e isso parece que surgiu da noite pro dia;
2.
Não há uma
liderança no movimento;
3.
Não aceitam
intromissão de partidos políticos ou
sindicatos;
4.
A maioria dos
manifestantes é muito jovem;
5.
Os
manifestantes, em sua maioria, não querem atos de vandalismo;
6.
São manifestações
pacíficas;
7.
Organizadas
basicamente pelas redes sociais.
Muitos observadores estão com medo de que se perca o
controle das massas e os atos de vandalismo se multipliquem; muitos achavam
que era fogo de palha; não esperavam que as manifestações fossem tão
frequentes.
Que vento é esse que está soprando
no Brasil?
É um vento de
esperança que quer varrer a inércia, a letargia, a omissão, e a cumplicidade
com os desmandos de nossa
desgastada classe política.
A aparente calmaria do país está se transformando num vendaval. Ainda
não se tem certeza de muita coisa, mas alguma
coisa nova está
sacudindo o país. O povo quer mudanças e a pauta de
reivindicações está crescendo, chegando inclusive a pedir a queda do Presidente
do Senado e a prisão de José Genuíno e seus comparsas do mensalão.
Ah! Até os aumentos das passagens
foram cancelados, em São Paulo e nas outras cidades; mas a dor de cabeça dos governantes é a seguinte: a indignação do
povo não era só com um aumento de vinte
centavos nas passagens!
Claudio D. Pereira